O TOUR DE FRANÇA. POIS...! NÃO É ATLETISMO, MAS É UM ATLETA PORTUGUÊS A BRILHAR NO ESTRANGEIRO-SÉRGIO PAULINHO

MAIS UM ATLETA NACIONAL BRILHA A ALTO NÍVEL. EM CICLISMO, SÉRGIO PAULINHO VENCEU UMA ETAPA, E DAS MAIS DIFÍCEIS, NO "TOUR" DE FRANÇA 2010.
A NOTÍCIA ESTÁ DADA E HOJE JÁ É OUTRO DIA. MAS, EM JEITO DE COMPLEMENTO, FICA ESTA INTERESSANTE SÍNTESE DAS PARTICIPAÇÕES DOS PORTUGUESES NO TOUR AO LONGO DOS TEMPOS.

Falar da participação portuguesa no Tour é falar de Joaquim Agostinho. O "Tino", como ficou conhecido o melhor ciclista nacional de sempre nas estradas francesas, é uma figura incontornável da Volta a França, com as suas 13 presenças na prova - apenas por uma vez não chegou ao final -, as 8 classificações no "top-10" (com 2 terceiros lugares) e as 5 vitórias em etapas, entre elas o triunfo no mítico L'Alpe d'Huez, em 1979. No entanto, o pioneiro foi António Alves Barbosa, que se estreou em 1956 com uma surpreendente 10.ª posição final, como integrante da seleção do Luxemburgo. Depois, o ciclista nascido na véspera de Natal de 1931 voltou a participar mais 3 vezes na "Grand Boucle" mas sem o mesmo sucesso - abandonou em 1957 e foi posteriormente 76.º (1958) e 65.º (1960).

Em 1957 assistiu-se a novo momento alto da história velocipédica nacional, com o jovem e malogrado José Manuel Ribeiro da Silva - então com 22 anos - a terminar no 25.º lugar na sua primeira e única participação na mais importante competição internacional de ciclismo. Num ano em que conseguiu o brilharete de passar na frente no alto do Tourmalet (2.113 metros), o ciclista de Lordelo confirmou as credenciais que lhe permitiram ganhar a Volta a Portugal em 1955 (com 20 anos) e 1957, além de uma 4.ª posição na Vuelta, neste mesmo ano. Porém, um estúpido acidente de motorizada, a 9 de abril de 1958, roubaria a vida ao jovem Ribeiro da Silva e retirou a Portugal, talvez, o sua maior figura da modalidade.

Era de sucesso

Depois dos bons resultados iniciais, Portugal só voltaria a brilhar no Tour com a chegada de Joaquim Agostinho, em 1969, pois Antonino Baptista e José Sousa Cardozo passaram sem honra nem glória pelas estradas francesas - o primeiro registou 3 desistências e o segundo também não terminou na sua única participação. Mas Agostinho entrou em cena de forma estrondosa: integrado na equipa Frimatic, arrancou um 8.º lugar final numa edição em que ganhou também duas etapas, surpreendendo toda a gente.

Os anos foram de sucesso para o ciclista natural de Brejenjas, que surgia sempre na luta pelo "top-10" - o seu pior resultado foi um 15.º posto, em 1975, exceptuando o abandono de 1981, já com 38 anos. E, depois das "ameaças" de 1971 (5.º) e 1974 (6.º), o popular "Tino" conseguiu com reconhecido mérito chegar ao pódio nas edições de 1978 e 1979, anos em que apenas perdeu para o francês Bernard Hinault (vencedor de 5 edições do Tour) e para o holandês Joop Zoetemelk - ainda o recordista de participações na prova francesa (16, chegando sempre ao fim), de segundos lugares (6) e vencedor logo no ano seguinte (1980).

Durante a "era" Agostinho, vários outros ciclistas nacionais o acompanharam. De todos, foi José Freitas Martins aquele que mais se aproximou dos feitos do maior ciclista português de sempre. Depois de um 33.º lugar na estreia, em 1973 - nesta edição, Fernando Mendes esteve também em destaque, concluindo a prova em 18.º, terminou em 12.º na edição de 1976, ano em que Joaquim Agostinho esteve ausente. Aquele foi outro dos emigrantes de sucesso do ciclismo português, averbou depois uma 16.ª posição em 1977, seguindo-se um 22.º lugar no ano seguinte.

A trágica morte impediu Joaquim Agostinho - com 41 anos, em 1983, ainda foi 11.º (!) - de cumprir o sonho de liderar a equipa do Sporting no Tour de 1984. No entanto, os seus companheiros de então estiveram em França para honrar a sua memória. E apesar dos resultados finais não serem brilhantes (Marco Chagas foi o melhor, na 77.ª posição), fica para história o brilhante triunfo de Paulo José Ferreira na 5.ª etapa, entre Béthune e Cergy-Pontoise, tornando-se no segundo português a conseguir tal feito.

Acácio da Silva

Em 1986 inicia-se a era de Acácio da Silva, outro emigrante de sucesso. Embora sem grandes classificações finais - o melhor que conseguiu foi um 61.º lugar, em 1992, no último ano que correu a Volta a França -, o transmontano que despontou para o ciclismo no Luxemburgo entrou também para história ao vestir a camisola amarela durante 5 dias, depois de vencer a 1.ª etapa na edição de 1989. Antes, já havia ganho outras duas tiradas (1987 e 1988), aproveitando as suas qualidades de sprinter.

As participações nacionais no Tour tornaram-se mais esporádicas a partir da década de 80 e, depois de Acácio da Silva, foi a vez de entrarmos no período de Orlando Rodrigues. Ao serviço da Banesto, assumiu-se sobretudo como um grande ciclista de equipa, surgindo em 1996 ao lado de um Miguel Indurain que procurava a 6.ª vitória na prova francesa. A tentativa do espanhol não foi bem sucedida mas não se pode queixar da falta de apoio do português, que estaria mais 3 vezes na Volta a França, obtendo em 1997 o seu melhor resultado, com um 33.º lugar final.

Azevedo

Depois de Orlando Rodrigues chegou José Azevedo. O vila-condense, à semelhança de Agostinho, entrou em grande estilo na alta roda, arrancando um notável 6.º lugar na estreia, em 2002, então ao serviço da equipa espanhola ONCE. No ano seguinte não seria tão feliz (foi 26.º), mas o seu valor inquestionável valeu-lhe a passagem para a US Postal, onde teria papel fundamental no apoio a Lance Armstrong. Em 2004 e 2005 esteve ao lado do norte-americano, contribuindo para a 6.ª e 7.ª vitória do mais bem sucedido ciclista na Volta a França. Apesar do esforço dispendido a defender o chefe-de-fila, isso não impediu Azevedo de garantir um fantástico 5.º lugar em 2004.

Depois de terminar 30.º em 2005, após a retirada de Armstrong na sequência do 7.º triunfo, José Azevedo surgiu em 2006 como líder da Discovery Channel (que sucedeu à US Postal), envergando mesmo o dorsal 1. Mas, apesar das fortes expectativas, o português não conseguiu repetir resultados anteriores e terminou em 19.º, naquela que foi a sua última participação na "Grande Boucle".

2010: Trio nacional

Este ano, Portugal conta com três ciclistas no pelotão que parte de Roterdão para a 97.ª edição do Tour. Sérgio Paulinho, de 30 anos, é o nome em maior destaque. Estreou-se em 2007, com uma 65.ª posição, ao serviço da Discovery Channel, contribuindo para o triunfo final de Alberto Contador. O espanhol voltou a vencer o ano passado, agora na Astana, e sempre com Paulinho ao seu lado, tendo o português ficado em 35.º lugar. Os seus desempenhos motivaram o convite de Lance Armstrong para integrar a RadioShack e o heptacampeão do Tour espera agora que Paulinho o ajude a regressar às grandes conquistas, naquela que será a sua última participação na prova.

As cores nacionais estão também representadas por uma jovem esperança, Rui Costa (23 anos), que integra a Caisse d'Epargne e faz a sua segunda presença na Volta a França. O ano passado, pela primeira vez na "Grande Boucle", acabou por ser obrigado a desistir na segunda semana devido a uma queda. Espera-se melhor sorte este ano, numa equipa que não vai poder contar com Alejandro Valverde. Chega a frança moralizado, com o titulo nacional de contrarrelógio.

O outro português, este em estreia absoluta, é Manuel Cardoso. O sprinter da Footon-Servetto, de 27 anos, aspira a ganhar uma etapa por uma equipa que vai usar bicicletas douradas.

Joaquim AGOSTINHO (13)
19698.º
197014.º
19715.º
19728.º
19738.º
19746.º
197515.º
197713.º
19783.º
19793.º
19805.º
1981abandono
198311.º
José AMARO (1)
197583.º
Joaquim ANDRADE (2)
1972abandono
197364.º
José AZEVEDO (5)
20026.º
200326.º
20045.º
200530.º
200619.º
António ALVES BARBOSA (4)
195610.º
1957abandono
195876.º
196065.º
Antonino BAPTISTA (3)
1958abandono
1959abandono
1960abandono
Firmino BERNARDINO (1)
1975abandono
José SOUSA CARDOSO (1)
1959abandono
Joaquim CARVALHO (1)
1975abandono
Marco CHAGAS (2)
198041.º
198477.º
Eduardo CORREIA (1)
1984118.º
Acácio DA SILVA (6)
198682.º
198764.º
198892.º
198984.º
1990108.º
199261.º
José Manuel RIBEIRO DA SILVA (1)
195725.º
Benedito FERREIRA (1)
1984abandono
Fernando FERREIRA (1)
197561.º
Paulo José FERREIRA (1)
1984abandono
Carlos MARTA (1)
1984122.º
José MARTINS (4)
197333.º
197612.º
197716.º
197822.º
Fernando MENDES (4)
1972abandono
197318.º
1975abandono
197727.º
Herculano de OLIVEIRA (2)
197345.º
1974abandono
Sérgio PAULINHO (2)
200765.º
200935.º
Orlando RODRIGUES (4)
199654.º
199733.º
1998abandono
200087.º
Manuel SILVA (1)
1975abandono
Rui COSTA (1)
2009abandono
José XAVIER (1)
1984119.º
Manuel ZEFERINO (1)
198494.º
1969Joaquim AGOSTINHO2 (Nancy - Mulhouse (5.ª); La Grande-Motte - Revel (14.ª))
1973Joaquim AGOSTINHO1 (Bordeaux - Bordeaux (16.ª-2))
1977Joaquim AGOSTINHO1 (Voiron - Saint-Etienne (18.ª))
1979Joaquim AGOSTINHO1 (Les Menuires - L'Alpe d'Huez (17.ª))
1984Paulo José FERREIRA1 (Béthune - Cergy-Pontoise (5.ª))
1987Acácio DA SILVA1 (Karlsruhe - Stuttgart (3.ª))
1988Acácio DA SILVA1 (Le Mans - Evreux (4.ª))
1989Acácio DA SILVA1 (Luxembourg - Luxembourg (1.ª))
2004José AZEVEDO1 (Cambrai - Arras (4.ª))
2005José AZEVEDO

c/"Record"

Cluve: 15.07.2010 (JL)